Antoniel Pontes – Assessoria do vereador Rafael Ranalli
A Câmara Municipal de Cuiabá aprovou, na última quinta-feira (22), um projeto de lei que institui um selo de identificação para veículos que transportam pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A proposta, de autoria do vereador e policial federal Rafael Ranalli (PL), visa ampliar a segurança no trânsito e promover a conscientização sobre os cuidados necessários com esse público.
Este é o terceiro projeto de lei de Ranalli aprovado na Câmara e agora segue para sanção do prefeito Abilio Brunini.
“É o nosso terceiro projeto aprovado, esperamos o convite do prefeito agora para a sanção. O projeto do selo que a Câmara aprovou hoje tem por objetivo proteger e identificar os carros com autistas. Um exemplo é que, se acontecer algum acidente, as pessoas que querem ajudar chegam com aquele apavoramento todo e, se tiver uma criança com um grau mais severo, ela pode se assustar e ter um problema maior. A criação do selo vai proporcionar um cuidado maior”, explicou Ranalli.
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O selo, que trará a inscrição “Autista a Bordo”, poderá ser solicitado pela própria pessoa com TEA ou por seus responsáveis legais. De acordo com a lei, ele deverá ser afixado na parte traseira do veículo utilizado para o transporte dessas pessoas.
Monjaro em Cuiabá: a promessa da caneta emagrecedora e a cortina de fumaça política
A proposta do pré-candidato Abílio Brunini de distribuir o medicamento Mounjaro em Cuiabá é analisada como uma política de saúde pública insustentável e uma tática de diversionismo político para desviar a atenção de problemas administrativos crônicos.
Proposta de distribuição do medicamento Mounjaro em Cuiabá gera debate sobre a viabilidade para a saúde pública e seu possível uso como estratégia política.Foto: Rogério Florentino
Enquanto a tirzepatida é vendida como solução mágica, a proposta pode servir como cortina de fumaça para desviar o foco de problemas reais e inflamar o debate político na capital.
A notícia de uma caneta que pode eliminar mais de 20 quilos em um ano e meio soa como música para quem luta contra a balança. O Mounjaro (tirzepatida) demonstrou uma potência impressionante, com estudos apontando uma redução de até 22,5% do peso corporal. Diante disso, a ideia de distribuí-lo na rede pública, como cogitado pelo prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, parece uma solução rápida e moderna para a epidemia de obesidade. Contudo, para além dos questionamentos sobre a viabilidade sanitária e financeira, a proposta se insere em uma conhecida tática política: a criação de um espetáculo para desviar o foco de problemas crônicos da gestão e mobilizar a base eleitoral.
Afinal, o que acontece quando a medicação acaba?
A conta do efeito rebote
O primeiro obstáculo é a própria natureza do tratamento. O Mounjaro não cura a obesidade, ele a gerencia. Pesquisas são claras ao mostrar que, um ano após interromper o uso da tirzepatida, os pacientes recuperam cerca de 14% do peso que haviam perdido. Na prática, isso significa que para manter os resultados, o uso precisa ser contínuo. Essa dependência contínua não apenas questiona a sustentabilidade financeira de uma distribuição em massa, como também acende um alerta sobre a criação de uma população cronicamente dependente de um fármaco para manter um resultado que, na sua ausência, se desfaz como um castelo de areia.
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Um rombo nos cofres públicos
O custo é outro fator impeditivo. Com valores mensais que podem ultrapassar os R$ 2 mil por paciente, a conta para o Sistema Único de Saúde (SUS) seria astronômica, especialmente considerando que mais de um quinto da população adulta brasileira vive com obesidade. Não é por acaso que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) já barrou a inclusão de outros medicamentos para obesidade, como a sibutramina, avaliando que o alto impacto orçamentário não compensava os benefícios, considerados modestos e arriscados.
Talvez o ponto mais crítico seja a visão simplista que a medicalização em massa representa. Tratar a obesidade apenas com uma injeção é ignorar suas raízes profundas. As diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) são uníssonas: a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo mudanças no estilo de vida e suporte profissional. A OMS vai além, advertindo que “a medicação isolada não será suficiente” e que o foco excessivo nos remédios pode criar uma “resposta distorcida” ao problema.
O SUS não disponibiliza medicamentos para obesidade
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não disponibiliza medicamentos específicos para o tratamento da obesidade. Esta ausência de opções farmacológicas na rede pública representa uma lacuna significativa no tratamento de uma doença que afeta aproximadamente 22% dos brasileiros adultos.
O protocolo atual do SUS para tratamento de sobrepeso e obesidade em adultos recomenda apenas intervenções não medicamentosas, incluindo:
Mudanças no estilo de vida
Orientações dietéticas
Prática de atividade física
Acompanhamento psicológico
Em casos mais graves, cirurgia bariátrica
Por Que o SUS Não Oferece Medicamentos para Obesidade?
Análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e rejeições anteriores
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) é o órgão responsável por avaliar a inclusão de novos medicamentos no sistema público. Até o momento, todos os medicamentos para obesidade analisados foram rejeitados por diversos motivos:
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1. Sibutramina (2020)
A Conitec recomendou a não incorporação da sibutramina baseada em:
Incertezas quanto ao benefício real do medicamento
Tendência de recuperação do peso perdido ao longo do tempo
Eventos adversos significativos
Alto impacto orçamentário para o SUS
2. Wegovy e Saxenda (2025)
Em maio de 2025, a Conitec emitiu parecer preliminar desfavorável à inclusão da semaglutida (Wegovy) e liraglutida (Saxenda), citando:
Custo extremamente elevado:
Estimativa de gastos entre R$ 3,4 bilhões a R$ 7 bilhões em cinco anos.
Impacto orçamentário considerado insustentável para o SUS
Necessidade de acompanhamento especializado:
Requer suporte psicológico e mudanças no estilo de vida
Dificuldade de implantação em larga escala no SUS
Critérios de Avaliação da Conitec
A comissão analisa múltiplos aspectos antes de incorporar qualquer tecnologia:
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Eficácia e segurança comprovadas
Evidências científicas robustas
Avaliação econômica comparativa
Impacto orçamentário para o SUS
Viabilidade de implementação
A cortina de fumaça farmacêutica
A discussão sobre o Mounjaro em Cuiabá não pode ser desassociada de uma estratégia política mais ampla, frequentemente utilizada por Brunini e outros expoentes da extrema direita: o diversionismo. O próprio deputado já admitiu publicamente o uso da tática, gabando-se de ter distraído a esquerda na CPMI do 8 de janeiro com suas “palhaçadas” para aprovar requerimentos de seu interesse. A postura disruptiva, que lhe rendeu o apelido de “bobo do Congresso”, parece ter eficácia eleitoral, mantendo-o na liderança das pesquisas para a prefeitura.
Essa metodologia, que transforma o debate público em um palco para o espetáculo, busca intencionalmente canalizar a atenção da mídia e dos eleitores para temas polêmicos e de fácil digestão, enquanto questões estruturais, como as falhas na saúde, educação e infraestrutura da cidade, permanecem convenientemente nas sombras. A proposta de uma “solução” cara e de efeito midiático para a obesidade se encaixa perfeitamente nesse roteiro, inflamando seguidores e forçando adversários a debater um tema secundário, enquanto os problemas reais da administração aguardam soluções concretas.
A redução da política a um jogo de engajamento corrói o debate democrático. No fim das contas, a população pode ficar com o pior dos dois mundos: a promessa de uma solução de saúde frágil e cara, e uma política que prefere o barulho da polêmica ao trabalho silencioso de resolver os problemas que realmente importam.
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