A Presidência da Câmara Municipal de Cuiabá sediou, na tarde desta quarta-feira (28), a primeira reunião técnica com representantes do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT), marcando o início da execução do Termo de Cooperação Técnica n.º 07/2025, celebrado entre os dois órgãos. A iniciativa visa à elaboração de um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social para o município, com foco na formulação de políticas públicas e no fortalecimento da atuação fiscalizatória do Poder Legislativo.
Participaram do encontro os vereadores Michelly Alencar (União Brasil), Ilde Taques (PSB), Alex Rodrigues (PV), Fred Gahyva (Republicanos), Demilson Nogueira (PP), Samantha Íris (PL), Dilemário Alencar (União Brasil) e Marcrean Santos (MDB), além de integrantes da equipe técnica da Presidência da Câmara. Representando o TCE-MT, estiveram presentes os servidores André Torres Babi, Adriangelo Barros Antunes e Maurício Munhoz Ferraz.
O Termo de Cooperação estabelece diretrizes para a realização de diagnósticos das potencialidades e desafios de Cuiabá, definição de metas e indicadores, e planejamento de ações em áreas como meio ambiente, segurança pública, mobilidade urbana, turismo, cultura, esporte, lazer, infraestrutura e logística.
Durante a reunião, foram apresentados os primeiros encaminhamentos do plano de trabalho, que será conduzido de forma conjunta, respeitando as competências institucionais de cada órgão. Caberá ao TCE-MT fornecer suporte técnico e metodológico, sem participação na execução das políticas públicas, enquanto a Câmara será responsável pela articulação com a sociedade civil, aprovação das propostas e acompanhamento dos resultados.
Com vigência de 48 meses, o acordo poderá ser prorrogado mediante termo aditivo. O documento foi assinado no último dia 14 de maio pela presidente da Câmara, vereadora Paula Calil (PL), e pelo presidente do TCE-MT, conselheiro Sérgio Ricardo de Almeida.
Monjaro em Cuiabá: a promessa da caneta emagrecedora e a cortina de fumaça política
A proposta do pré-candidato Abílio Brunini de distribuir o medicamento Mounjaro em Cuiabá é analisada como uma política de saúde pública insustentável e uma tática de diversionismo político para desviar a atenção de problemas administrativos crônicos.
Proposta de distribuição do medicamento Mounjaro em Cuiabá gera debate sobre a viabilidade para a saúde pública e seu possível uso como estratégia política.Foto: Rogério Florentino
Enquanto a tirzepatida é vendida como solução mágica, a proposta pode servir como cortina de fumaça para desviar o foco de problemas reais e inflamar o debate político na capital.
A notícia de uma caneta que pode eliminar mais de 20 quilos em um ano e meio soa como música para quem luta contra a balança. O Mounjaro (tirzepatida) demonstrou uma potência impressionante, com estudos apontando uma redução de até 22,5% do peso corporal. Diante disso, a ideia de distribuí-lo na rede pública, como cogitado pelo prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, parece uma solução rápida e moderna para a epidemia de obesidade. Contudo, para além dos questionamentos sobre a viabilidade sanitária e financeira, a proposta se insere em uma conhecida tática política: a criação de um espetáculo para desviar o foco de problemas crônicos da gestão e mobilizar a base eleitoral.
Afinal, o que acontece quando a medicação acaba?
A conta do efeito rebote
O primeiro obstáculo é a própria natureza do tratamento. O Mounjaro não cura a obesidade, ele a gerencia. Pesquisas são claras ao mostrar que, um ano após interromper o uso da tirzepatida, os pacientes recuperam cerca de 14% do peso que haviam perdido. Na prática, isso significa que para manter os resultados, o uso precisa ser contínuo. Essa dependência contínua não apenas questiona a sustentabilidade financeira de uma distribuição em massa, como também acende um alerta sobre a criação de uma população cronicamente dependente de um fármaco para manter um resultado que, na sua ausência, se desfaz como um castelo de areia.
Advertisement
Um rombo nos cofres públicos
O custo é outro fator impeditivo. Com valores mensais que podem ultrapassar os R$ 2 mil por paciente, a conta para o Sistema Único de Saúde (SUS) seria astronômica, especialmente considerando que mais de um quinto da população adulta brasileira vive com obesidade. Não é por acaso que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) já barrou a inclusão de outros medicamentos para obesidade, como a sibutramina, avaliando que o alto impacto orçamentário não compensava os benefícios, considerados modestos e arriscados.
Talvez o ponto mais crítico seja a visão simplista que a medicalização em massa representa. Tratar a obesidade apenas com uma injeção é ignorar suas raízes profundas. As diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) são uníssonas: a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo mudanças no estilo de vida e suporte profissional. A OMS vai além, advertindo que “a medicação isolada não será suficiente” e que o foco excessivo nos remédios pode criar uma “resposta distorcida” ao problema.
O SUS não disponibiliza medicamentos para obesidade
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não disponibiliza medicamentos específicos para o tratamento da obesidade. Esta ausência de opções farmacológicas na rede pública representa uma lacuna significativa no tratamento de uma doença que afeta aproximadamente 22% dos brasileiros adultos.
O protocolo atual do SUS para tratamento de sobrepeso e obesidade em adultos recomenda apenas intervenções não medicamentosas, incluindo:
Mudanças no estilo de vida
Orientações dietéticas
Prática de atividade física
Acompanhamento psicológico
Em casos mais graves, cirurgia bariátrica
Por Que o SUS Não Oferece Medicamentos para Obesidade?
Análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e rejeições anteriores
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) é o órgão responsável por avaliar a inclusão de novos medicamentos no sistema público. Até o momento, todos os medicamentos para obesidade analisados foram rejeitados por diversos motivos:
Advertisement
1. Sibutramina (2020)
A Conitec recomendou a não incorporação da sibutramina baseada em:
Incertezas quanto ao benefício real do medicamento
Tendência de recuperação do peso perdido ao longo do tempo
Eventos adversos significativos
Alto impacto orçamentário para o SUS
2. Wegovy e Saxenda (2025)
Em maio de 2025, a Conitec emitiu parecer preliminar desfavorável à inclusão da semaglutida (Wegovy) e liraglutida (Saxenda), citando:
Custo extremamente elevado:
Estimativa de gastos entre R$ 3,4 bilhões a R$ 7 bilhões em cinco anos.
Impacto orçamentário considerado insustentável para o SUS
Necessidade de acompanhamento especializado:
Requer suporte psicológico e mudanças no estilo de vida
Dificuldade de implantação em larga escala no SUS
Critérios de Avaliação da Conitec
A comissão analisa múltiplos aspectos antes de incorporar qualquer tecnologia:
Advertisement
Eficácia e segurança comprovadas
Evidências científicas robustas
Avaliação econômica comparativa
Impacto orçamentário para o SUS
Viabilidade de implementação
A cortina de fumaça farmacêutica
A discussão sobre o Mounjaro em Cuiabá não pode ser desassociada de uma estratégia política mais ampla, frequentemente utilizada por Brunini e outros expoentes da extrema direita: o diversionismo. O próprio deputado já admitiu publicamente o uso da tática, gabando-se de ter distraído a esquerda na CPMI do 8 de janeiro com suas “palhaçadas” para aprovar requerimentos de seu interesse. A postura disruptiva, que lhe rendeu o apelido de “bobo do Congresso”, parece ter eficácia eleitoral, mantendo-o na liderança das pesquisas para a prefeitura.
Essa metodologia, que transforma o debate público em um palco para o espetáculo, busca intencionalmente canalizar a atenção da mídia e dos eleitores para temas polêmicos e de fácil digestão, enquanto questões estruturais, como as falhas na saúde, educação e infraestrutura da cidade, permanecem convenientemente nas sombras. A proposta de uma “solução” cara e de efeito midiático para a obesidade se encaixa perfeitamente nesse roteiro, inflamando seguidores e forçando adversários a debater um tema secundário, enquanto os problemas reais da administração aguardam soluções concretas.
A redução da política a um jogo de engajamento corrói o debate democrático. No fim das contas, a população pode ficar com o pior dos dois mundos: a promessa de uma solução de saúde frágil e cara, e uma política que prefere o barulho da polêmica ao trabalho silencioso de resolver os problemas que realmente importam.
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.AceitarLeia nossa política de privacidade
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.AceitarLeia nossa política de privacidade