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Crise na comunicação do governo

"Caos" na EBC: diretora pede demissão com carta explosiva ao ministro de Lula

A diretora da EBC, Sabrina Gabeto Soares, pede demissão em carta ao ministro Sidônio Palmeira. O documento cita “caos”, cortes de verbas, falta de apoio do governo e aponta para uma grave crise de gestão e poder na estatal de comunicação.

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Crise na estatal de comunicação expõe conflito entre as demandas presidenciais e os severos cortes orçamentários no governo Lula.
Crise na estatal de comunicação expõe conflito entre as demandas presidenciais e os severos cortes orçamentários no governo Lula.(foto: EBC).

Documento expõe cortes orçamentários, desconfiança permanente e a crescente pressão das agendas presidenciais sobre a estatal de comunicação.

O estopim de uma crise latente na comunicação do governo federal veio à tona. Numa carta contundente endereçada ao ministro Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), a agora ex-diretora da EBC, Sabrina Gabeto Soares, pediu para sair, descrevendo um cenário de “caos” e expondo o que chamou de uma “desconfiança permanente” vinda do próprio governo que deveria apoiar a estatal. A demissão, datada de 4 de junho mas que ganhou corpo nos últimos dias, escancara as fissuras na gestão da Empresa Brasil de Comunicação.

A carta de Sabrina é um retrato ácido da situação. Ela relata que a esperança inicial de melhorias sob a nova gestão foi se desfazendo, dando lugar à percepção de que a empresa pública era, na verdade, um incômodo. “Percebo com tristeza que a empresa foi cunhada como estorvo e não há qualquer intenção em olhá-la com outro viés senão o de confirmação”, desabafou no documento.

Um estorvo para o governo

Segundo a ex-diretora, a cúpula da EBC, mesmo diante da falta de sinais de apoio, seguia tentando segurar as pontas. A diretora descreve uma gestão resiliente, que se esforça para manter as conquistas da empresa, mas que opera sob um clima de suspeita constante e sem qualquer aceno de suporte efetivo por parte da Secom. Sabrina Gabeto Soares afirma no texto que, ao permanecer no que classificou como “caos da EBC”, teria “profissionalmente muito a perder empenhando minha reputação profissional”.

O sentimento de abandono era tamanho que ela questionou a própria viabilidade do modelo. Para ela, era “difícil entender que uma empresa pudesse ser mais engessada que o Executivo”.

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A conta que não fecha

O problema, claro, também é dinheiro. Ou a falta dele. Os cortes no orçamento da Secom, segundo Soares, se chocam de frente com as demandas cada vez maiores do Palácio do Planalto. As viagens e eventos do presidente Lula, por exemplo, fizeram os custos com deslocamento de equipes de reportagem saltarem 50%.

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Ao mesmo tempo, a estatal embarcou em projetos que, na visão da ex-diretora, oneraram ainda mais um caixa já pressionado. Ela cita especificamente a aquisição dos direitos de transmissão da Série B do Campeonato Brasileiro, uma decisão tomada “apesar dos meus protestos e alertas”, e a importação de uma novela, complicando ainda mais a corda bamba financeira da EBC.

Quem é Sabrina Gabeto Soares?

Servidora de carreira, Sabrina é graduada em Engenharia de Redes de Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e possui mestrado em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com passagens pelo governo do Distrito Federal e pelo Ministério da Saúde, sua experiência é predominantemente técnica, focada em gestão, orçamento e avaliação de políticas públicas, incluindo projetos do PAC.

Quem é o ministro no centro da crise?

No comando da Secom desde janeiro deste ano, Sidônio Palmeira é o homem de confiança de Lula para a comunicação do governo. Ele assumiu a pasta, que tem status de ministério, no lugar de Paulo Pimenta.

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Baiano, com 66 anos, Palmeira tem uma trajetória curiosa: formado em engenharia pela UFBA, migrou para a comunicação ainda nos anos 90. Foi no marketing político que construiu sua carreira, chegando a presidir a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap). Seu nome ganhou projeção nacional ao comandar a vitoriosa campanha presidencial de Lula em 2022, mas sua experiência com o PT é antiga. Ele esteve por trás das campanhas de Jaques Wagner na Bahia, em 2006, e de Fernando Haddad à Presidência, em 2018.

Conhecido nos bastidores pelo perfil pragmático e discreto, seu grande objetivo é justamente alinhar os indicadores positivos do governo com a percepção popular. Ao assumir, listou o combate às fake news como prioridade, mas também a necessidade de fazer a mensagem do governo “chegar na ponta”, um ponto que ele mesmo admite ser uma falha na comunicação atual.

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Guerra de egos e poder

A demissão não ocorre no vácuo. Ela é o capítulo mais recente de uma crise de poder e vaidades nos bastidores da comunicação oficial. Fontes de bastidores apontam que a decisão de publicar a exoneração como um pedido da própria diretora foi uma tentativa do presidente da EBC, Jean Lima, de amenizar o golpe. Não adiantou. A franqueza da carta de Sabrina foi vista pela cúpula da Secom como uma traição.

O resultado? O ministro Sidônio Palmeira agiu rápido e indicou pessoalmente o substituto, Rodrigo Faria, passando por cima da autoridade de Jean Lima e deixando claro quem, de fato, comanda o jogo.

O fim de um modelo?

Afinal, qual o futuro de uma estatal como a EBC? A própria Sabrina Gabeto Soares deixa a pergunta no ar ao fazer uma crítica demolidora. “As estatais dependentes são um modelo institucional tão peculiar e esdrúxulo que até o momento a solução encontrada para suplantar os problemas deste modelo é o seu fim”, escreveu.

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A saída da diretora, portanto, é mais do que um rearranjo de cadeiras na Esplanada. Ela joga luz sobre as contradições de um governo que precisa comunicar suas ações mas, ao mesmo tempo, lida com um severo ajuste fiscal, simbolizado pelo recente congelamento de R$ 31,3 bilhões do orçamento. Em meio a disputas internas e a crescente pressão sobre as contas públicas, a crise na EBC serve como um termômetro dos desafios que a gestão enfrentará não só na sua propaganda, mas na própria governabilidade, com 2026 já no horizonte.

 

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50% dos brasileiros estão decepcionados com o governo Lula, diz pesquisa

Pesquisa Ipsos-Ipec de junho de 2025 aponta que 50% dos brasileiros consideram o governo Lula “pior do que o esperado”. O sentimento de decepção atinge eleitores da base e da oposição, sendo um fator central na avaliação negativa da gestão.

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Análise de dados da pesquisa Ipsos-Ipec de junho de 2025 revela que a frustração com o desempenho do governo é um fator chave para a avaliação negativa do presidente Lula. 4. Frase-chave principal
Análise de dados da pesquisa Ipsos-Ipec de junho de 2025 revela que a frustração com o desempenho do governo é um fator chave para a avaliação negativa do presidente Lula. Foto: Rogério Florentino.

Metade da população avalia que a gestão está aquém do que imaginava, um sentimento que alimenta a percepção negativa e atinge até mesmo parte da base de eleitores do presidente.

A matemática da política, muitas vezes, se resume a uma conta simples: a da expectativa versus a realidade. E para metade exata da população brasileira, o resultado do governo Lula está no vermelho. Uma nova pesquisa Ipsos-Ipec, realizada entre 5 e 9 de junho, revela que 50% dos entrevistados acreditam que a administração federal está “pior” do que esperavam. O número, que se mantém estável em relação a março, quando era de 51% , funciona como um termômetro da frustração que tomou conta do país.

Esse sentimento de decepção é um balde de água fria na popularidade do governo. Ele não apenas reflete, mas também impulsiona os indicadores gerais de desempenho. “Esse resultado corrobora as medidas de avaliação e aprovação do desempenho do governo Lula”, conclui Márcia Cavallari, diretora da Ipsos-Ipec, traçando uma linha direta entre a quebra de expectativas e a dificuldade do Planalto em reverter a maré negativa.

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A frustração nos detalhes

Olhando mais de perto, os números mostram que a insatisfação é generalizada. Ela atinge seu ápice, como esperado, entre aqueles que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno de 2022, onde 79% consideram o governo pior do que o imaginado. A surpresa, no entanto, mora dentro da própria base governista. Mesmo entre os que declararam voto em Lula, 22% — mais de um em cada cinco — afirmam que a gestão está pior do que o que previam.

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A percepção negativa também predomina em outros recortes significativos. Entre os mais ricos, com renda familiar superior a 5 salários mínimos, 65% se dizem decepcionados. O sentimento é majoritário entre os homens (54%), moradores das regiões Sudeste (54%) e Sul (55%) , e entre a população evangélica (58%).

O otimismo em baixa

Na outra ponta, o grupo dos que enxergam um governo “melhor” do que a encomenda encolheu, oscilando de 19% em março para 20% agora em junho. Essa visão mais otimista encontra mais eco entre os eleitores de Lula (39%) , os moradores do Nordeste (31%) e os cidadãos com renda familiar de até um salário mínimo (29%).

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Enquanto isso, 28% dos brasileiros avaliam que a administração está “igual” ao que esperavam , um percentual que sobe para 45% entre os que têm avaliação regular do governo e para 37% entre os eleitores de Lula, sugerindo que, para uma parcela do eleitorado, a ausência de surpresas já é o suficiente.

Essa paisagem de expectativas frustradas ajuda a explicar por que a avaliação negativa do governo (ruim/péssimo) permanece tão alta, em 43% , e a desaprovação à maneira de governar atinge 55% dos cidadãos. A dificuldade de Lula, ao que parece, não é apenas convencer seus opositores, mas também entregar o futuro que até mesmo parte de seus apoiadores esperava.

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