SEGURANÇA PÚBLICA
Fracasso no alemão: como a operação mais letal da história do Rio se conecta a um aliado do governador
Enquanto Cláudio Castro defende ação com 121 mortos, ex-deputado preso por armar o Comando Vermelho alega ‘queima de arquivo’.
O fracasso total da operação contenção no RJ. A ação, deflagrada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, já é a mais letal da história do estado fluminense. O saldo: 121 mortos confirmados, superando o Massacre do Carandiru de 1992.
O governador Cláudio Castro (PL) insiste em chamar a operação de “sucesso”. Mas os fatos, e uma rede de especialistas, contestam duramente a narrativa oficial.
Especialistas em segurança pública, e até mesmo dados da própria secretaria, apontam que a operação falhou em seus objetivos centrais, violou protocolos constitucionais e resultou numa carnificina sem precedentes.
Enquanto o governador defende a ação, uma tempestade política paralela ganha força. Ela conecta o Palácio Guanabara diretamente aos criminosos que a operação dizia combater.
O ‘sucesso’ dos 100 mandados
A “Operação Contenção” mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar. O objetivo declarado era cumprir 180 mandados de busca e 100 mandados de prisão, além de frear a expansão do Comando Vermelho (CV).
Mas os números oficiais, divulgados pela própria Polícia Civil, detalham o resultado pífio desse objetivo central.
Dos 100 mandados de prisão que motivaram a ação, apenas 20 foram efetivamente cumpridos (uma taxa de execução de 20%). Outros 15 alvos dos mandados foram mortos durante a operação. Os 65 restantes, a grande maioria, não foram encontrados.
No total, a operação teve apenas 35% de “resultado” (presos ou mortos) sobre os alvos específicos que ela se propôs a capturar.
O governo anunciou um total de 113 prisões, mas 93 delas foram em flagrante — ou seja, não eram os alvos originais dos mandados. O custo humano, contudo, foi estarrecedor: 117 civis e 4 policiais mortos.
O alvo que escapou ‘por um triz’
O fracasso estratégico central tem nome: Edgar Alves de Andrade, o “Doca”. Ele era o principal alvo da megaoperação. E escapou.
O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, admitiu publicamente o revés em 30 de outubro. “Nós não prendemos o Doca por um triz”, declarou. O reconhecimento oficializa que o objetivo número um não foi atingido.
Investigações apontam que Doca, o segundo homem na hierarquia do CV em liberdade, usou cerca de 70 membros da facção como “barreira” para garantir a própria fuga. Após a falha, autoridades rapidamente mudaram o discurso, redefinindo “sucesso” como a mera apreensão de armas e a prisão de “soldados”, não da liderança.
A sombra de TH Jóias
A defesa veemente de Castro ocorre num momento politicamente explosivo. Fotografias suas ao lado de Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, inundaram as redes sociais.
TH Jóias não é um aliado qualquer. Ex-deputado estadual, ele foi preso em 3 de setembro. A acusação: ser um dos principais fornecedores de armas e tecnologia de ponta para o Comando Vermelho.
A prisão de TH Jóias revelou um esquema sofisticado. Ele negociava fuzis calibre 5.56 diretamente com chefes do CV, como Gabriel Dias Oliveira (Índio do Lixão). Em mensagens interceptadas, TH Jóias chegou a dizer ao traficante: “Seu pedido é uma ordem. Eu trabalho pra você”.
O esquema, que movimentou R$ 140 milhões, usava empresas de fachada e até uma franquia de loja do Flamengo para lavar dinheiro.
‘Queima de arquivo’?
A conexão entre os dois escândalos explodiu em 3 de novembro. O ex-governador Anthony Garotinho afirmou que TH Jóias estaria disposto a fechar um acordo de delação premiada.
Segundo Garotinho, que atribuiu a informação a um agente penitenciário, TH Jóias teria classificado a “Operação Contenção” como uma “tentativa de queima de arquivo” por parte do governo. A alegação, embora ainda não confirmada judicialmente, sugere que o ex-deputado teme por sua vida e vê a operação letal como uma forma de silenciá-lo.
Garotinho ainda relatou que TH Jóias teria mencionado um “combinado” para ser solto até o fim de novembro, ameaçando se tornar um “homem-bomba” caso o acordo falhe.
Tecnologia de guerra para o tráfico
O ponto mais grave da investigação contra TH Jóias é a tecnologia militar. A Polícia Federal descobriu que o então deputado comprou ao menos 10 equipamentos antidrones da China, incluindo 7 “bazucas” especializadas.
Ele revendia cada unidade ao CV por R$ 300 mil, um superfaturamento de mais de 1.500%.
O assessor de TH Jóias, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves (Dudu), foi filmado treinando traficantes. Vídeos apreendidos mostram Dudu demonstrando como usar os equipamentos para “cortar todo o sinal” e “inibir todos os sinais dos drones” da polícia.
Essa exata tecnologia foi usada pelo Comando Vermelho contra os policiais durante a Operação Contenção. Traficantes usaram drones com garras adaptadas para lançar granadas sobre os agentes.
‘Desastrosa e incompetente’
Para especialistas, a operação foi um desastre anunciado. Jacqueline Muniz, professora da UFF, classificou a ação como “desastrosa e incompetente”. Ela apontou 16 falhas graves, incluindo o abandono de 5 milhões de moradores, deixados “sem policiamento” pelo deslocamento dos 2.500 agentes.
Muniz também acusa o governo de descumprir a ADPF 635, o conjunto de regras do STF para operações em favelas, e de usar “policiais novatos” em situação de risco extremo. “O que nós assistimos foi um uso político-partidário das operações, que têm servido como marketing publicitário”, criticou.
Roberto Uchôa, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), foi categórico. “Se o objetivo da operação foi prender as lideranças, enfraquecer a organização criminosa e retirar o seu domínio sobre a comunidade, foi um fracasso”. Para ele, a ação foi “paliativa e pirotécnica”.
O próprio FBSP, em nota oficial, afirmou que a operação “foi conduzida… mais pelo viés político daqueles que propugnam o morticínio como prática… do que pela racionalidade técnica”.
‘De vítima, só os policiais’
Alvo de críticas, Cláudio Castro dobrou a aposta. Em coletiva, tentou reescrever a realidade dos 117 civis mortos.
“Queria me solidarizar com as famílias dos quatro guerreiros que deram a vida… Eles foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítima ontem, só tivemos os policiais”, declarou o governador.
Castro tentou justificar a classificação, alegando que o conflito ocorreu “todo na mata”. “Não creio que tivesse alguém passeando na mata num dia de conflito. Por isso a gente pode tranquilamente classificar de criminosos”, disse, sem apresentar provas.
Uma análise divulgada pela própria Polícia Civil em 2 de novembro, contudo, contradiz a fala do governador. Os dados mostram que, dos 117 civis mortos na operação, pelo menos 17 não tinham nenhum histórico criminal.
O mesmo levantamento apontou que 97 dos mortos tinham antecedentes e 59 possuíam mandados de prisão pendentes (em geral, não apenas os 100 alvos originais).
Ricardo Balestreri, especialista em segurança pública, rebateu a fala de Castro: “Minha avaliação é que é muito difícil e desonesto classificar essa operação como sucesso. Ela apenas traz elementos de fracasso”.
O governador também atacou críticos. “Quem deseja vir aqui para somar são bem-vindos. Os outros, que querem causar confusão e politicagem, que se retirem. Ou somam, ou somem”.
Um fracasso em todas as frentes
A Operação Contenção falhou em cumprir 80% dos mandados de prisão que a motivaram. Falhou em capturar seu alvo principal. E falhou em seguir protocolos legais, segundo os maiores especialistas do país.
Enquanto isso, o governador que a defende se vê obrigado a explicar suas fotos com o homem que armou e treinou o inimigo, que por sua vez, acusa o governo de tentar silenciá-lo através da operação policial mais sangrenta da história do Rio.
Para entender melhor:
- ADPF 635: É uma decisão (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) do Supremo Tribunal Federal (STF) que impõe regras rígidas para a realização de operações policiais em favelas do Rio de Janeiro, exigindo justificativa excepcional, comunicação ao MP e medidas para reduzir a letalidade.
- ‘Queima de arquivo’: Expressão popular que significa matar ou silenciar uma pessoa que detém informações comprometedoras (um “arquivo vivo”), impedindo que ela revele segredos ou denuncie cúmplices.
- Comando Vermelho (CV): Uma das maiores e mais antigas facções criminosas do Brasil, com atuação dominante no Rio de Janeiro, focada principalmente no tráfico de drogas e armas.
- Equipamentos antidrone (Bazucas/Bloqueadores): Tecnologia usada para interferir, bloquear ou derrubar drones. Funciona emitindo sinais de radiofrequência que cortam a comunicação entre o drone e seu operador.
DESTAQUE
Mãe de três é presa por furto em loja do VG Shopping; veja vídeo
polícia aponta cúmplice Jovem de 23 anos, que já responde por outra ocorrência semelhante, foi detida com 47 peças de roupa; uma segunda mulher conseguiu fugir
A tarde de compras terminou em detenção para B.N.A., 23 anos. Ela foi presa em flagrante nesta quinta-feira (06), por volta das 13h, no Várzea Grande Shopping. A jovem, que se declarou autônoma e mãe de três filhos pequenos, foi detida por seguranças após sair da Lojas C&A. Com ela, uma sacola grande continha 18 shorts e 29 camisetas, todos ainda com os sensores antifurto intactos.
Assista o vídeo no final da matéria.
O flagrante no shopping
O acionamento da Polícia Militar ocorreu via CIOSP pouco depois das 14h. Ao chegar ao local, a guarnição, liderada pelo 2º Sargento Luiz Carlos de Amorim, encontrou a suspeita já detida pela equipe de segurança do shopping. Segundo o supervisor Rubens, B.N.A. foi abordada ao deixar a C&A. Ela carregava a sacola volumosa com as 47 peças. Os policiais deram voz de prisão e utilizaram algemas, alegando “fundado receio de fuga”, conforme consta no boletim de ocorrência. Em seguida, conduziram a detida e a representante da loja à 4ª Delegacia de Polícia, na Central de Flagrantes.
A comparsa que escapou
A narrativa na Central de Flagrantes revelou um segundo elemento. Danielly Ines Bispo de Moraes, funcionária da C&A, explicou que foi alertada pela segurança do shopping sobre a ação de duas suspeitas. Segundo o relato, uma delas conseguiu escapar. Esta mulher, descrita como “de blusa azul, calça jeans, cabelo preto liso e comprido”, também carregava uma sacola de produtos furtados. B.N.A. foi a única detida. Danielly solicitou a juntada das imagens do circuito interno, que, segundo ela, confirmam a ação conjunta. As 47 peças recuperadas, avaliadas no total, foram formalmente reconhecidas e devolvidas à loja.
“Não sabia que iriam furtar”
Ouvida pela autoridade policial, já assistida por sua advogada, Joelma Medeiros Gonçalves, B.N.A. deu sua versão. Ela confirmou que foi ao shopping acompanhada, mas alegou ter sido induzida. A jovem afirmou ter ido ao local com uma “conhecida de nome Amanda”. Declarou em seu interrogatório que “não sabia que iriam furtar”. Segundo seu relato, foi Amanda quem, já dentro do estabelecimento, a chamou para “pegar as roupas”, entregando-lhe uma sacola. B.N.A. disse que Amanda saiu primeiro. Ao tentar sair logo depois, foi interceptada pelo segurança. A jovem, que tem três filhos (de 7 meses, 4 e 6 anos) e reside em Cuiabá, alegou que as peças seriam para “uso próprio”, mas atribuiu à suposta cúmplice a escolha das roupas masculinas apreendidas.
Reincidência e prisão qualificada
A análise do delegado Claudinei de Souza Lopes resultou na ratificação da voz de prisão. B.N.A. foi autuada por furto qualificado pelo concurso de pessoas (Art. 155, § 4º, IV do Código Penal). A decisão de qualificar o crime, que impede o arbitramento de fiança pela autoridade policial neste caso, baseou-se no fato da conduzida estar “em companhia de outra comparsa não identificada (conforme depoimento de DANIELLY INES BISPO DE MORAES e vídeo do sistema de segurança da loja)”. A situação da jovem é agravada por seus antecedentes; uma pesquisa criminal revelou um Auto de Prisão em Flagrante anterior, também por furto qualificado, registrado em Cuiabá no ano de 2023. Em seu interrogatório, ela admitiu o processo anterior, mas alegou não ter sido condenada. Sem fiança arbitrada, foi encaminhada à Gerência de Custódia e Escolta Metropolitana, onde aguarda decisão judicial.
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