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Futuro das transações em xeque

Governo Lula avalia "CPMF digital" para pix e outras transações

Governo Lula estuda a criação de uma nova taxa sobre transações digitais (Pix, TED, DOC), similar à antiga CPMF, gerando debate e resistência.

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Discussão sobre nova taxa para transações digitais, como Pix e TED, avança internamente no governo federal, gerando debates sobre impacto econômico.
Discussão sobre nova taxa para transações digitais, como Pix e TED, avança internamente no governo federal, gerando debates sobre impacto econômico.

Proposta de nova taxa sobre movimentações financeiras digitais enfrenta resistência antes mesmo de ser formalizada, ecoando debates do passado.

A sombra de um imposto nos moldes da antiga CPMF volta a pairar sobre as transações digitais no Brasil. Nos corredores do governo Lula, a discussão sobre uma nova taxa para operações via Pix, TED, DOC e carteiras digitais ganha corpo, ainda que nos bastidores, e já acende o alerta entre cidadãos e no cenário político.

O que está em jogo?

A ideia, ainda em fase de estudo interno no Ministério da Fazenda, seria aplicar uma alíquota enxuta, algo entre 0,10% e 0,20%, sobre cada movimentação financeira feita por meios eletrônicos. O objetivo declarado é nobre: ampliar a arrecadação para o cofre público, permitindo compensar isenções fiscais e desonerações concedidas a outros setores da economia. Além disso, o governo acena com a promessa de simplificação e modernização tributária, tentando encontrar um caminho para equilibrar as contas em 2025 sem recorrer ao aumento de impostos mais diretos, como o Imposto de Renda, uma manobra que busca fôlego fiscal para o próximo ano.

Voz das ruas e do congresso

Mal a notícia começou a circular nos bastidores e a reação foi, digamos, pouco amistosa. Nas redes sociais, a hashtag #VoltaDaCPMFNão rapidamente ganhou tração, acompanhada de termos como “imposto do Pix”, escancarando a preocupação popular. As críticas centram fogo no potencial efeito cascata e regressivo da medida. Afinal, quem mais sentiria o peso? Provavelmente, os usuários de baixa renda e os microempreendedores, que dependem de múltiplas transações de pequeno valor no dia a dia, vendo os custos se acumularem feito uma bola de neve.

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No Congresso Nacional, a proposta nem sequer desembarcou oficialmente, mas o burburinho já indica uma travessia difícil. Parlamentares, inclusive da base aliada, torcem o nariz para a ideia, cientes do desgaste político que uma “nova CPMF” poderia gerar, especialmente com o calendário eleitoral no horizonte. A simples menção de um tributo dessa natureza costuma eriçar os ânimos em Brasília.

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Para entender melhor: O que foi a CPMF?

A Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) vigorou no Brasil entre 1997 e 2007. Era um imposto que incidia sobre praticamente todas as movimentações bancárias, como saques, pagamentos e transferências. Embora com alíquota considerada baixa na época, sua arrecadação era expressiva devido à ampla base de incidência. A extinção da CPMF foi resultado de forte pressão popular e política.

O xadrez no planalto

Por enquanto, a “CPMF digital” segue como um balão de ensaio, restrita às planilhas e debates internos da equipe econômica. O governo, estrategicamente, evita cravar o nome “CPMF”, mas admite a busca por alternativas para vitaminar a arrecadação, de olho nos desafios fiscais que 2025 já anuncia. Este cenário remete a janeiro deste ano, 2025, quando o Palácio do Planalto precisou agir rápido para revogar uma medida da Receita Federal que ampliava o pente-fino sobre transações via Pix. Naquela ocasião, em meio a uma onda de desinformação sobre uma suposta taxação do Pix, o governo fez questão de reforçar a gratuidade do sistema, publicando até uma Medida Provisória para selar o compromisso com a gratuidade e o sigilo das operações, um movimento para acalmar os ânimos e desmentir boatos.

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Portanto, enquanto a discussão sobre uma possível nova taxa para transações digitais segue intramuros no governo, é fato que, até o momento – início de junho de 2025 –, nenhuma cobrança sobre Pix, TED, DOC ou carteiras digitais está em vigor. O futuro dessa ideia é uma incógnita, dependendo da temperatura política e da reação da sociedade nas próximas semanas, mas o debate sobre a “CPMF digital” já está lançado, e com ele, a lembrança de um imposto que marcou uma era.

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Situação oficial e contexto

  • Não há, até o momento, confirmação de envio de projeto de lei ao Congresso ou anúncio formal da implementação da taxa. Trata-se de uma proposta em discussão interna, sem decisão final.

  • O plano de governo de Lula, divulgado em 2022, não previa a criação de nova CPMF ou taxação do Pix. No entanto, a pressão fiscal e a busca por novas fontes de receita reacenderam o debate neste ano.

  • Em janeiro de 2025, a Receita Federal ampliou o monitoramento de transações financeiras, mas sem criação de taxas. A medida foi mal recebida e revogada após repercussão negativa, alimentando rumores e fake news sobre uma suposta CPMF digital, o que não se concretizou naquele momento

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DESTAQUE

Justiça sob suspeita: CNJ deflagra inspeção-geral no TJMT a partir da semana que vem (24)

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realiza uma inspeção no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) de 24 a 27 de junho de 2025. A medida é uma resposta direta a graves escândalos de corrupção, incluindo a Operação Sisamnes, que apura um esquema de venda de sentenças e o suposto elo de magistrados com o grupo de extermínio “Comando C4”.

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Sede do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que passa por inspeção do Conselho Nacional de Justiça em meio a investigações sobre esquemas de corrupção e venda de sentenças envolvendo magistrados.
Sede do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que passa por inspeção do Conselho Nacional de Justiça em meio a investigações sobre esquemas de corrupção e venda de sentenças envolvendo magistrados.Foto: Rogério Florentino

Fiscalização ocorre em meio a investigações sobre venda de sentenças e o elo de magistrados com um suposto grupo de extermínio

Uma força-tarefa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), liderada pessoalmente pelo Corregedor Nacional, Ministro Mauro Campbell Marques, desembarca em Cuiabá na próxima semana para uma ampla e minuciosa inspeção no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). A fiscalização, agendada para ocorrer entre os dias 24 e 27 de junho, não é mera rotina; ela acontece sob o peso de uma atmosfera carregada, marcada por escândalos que expuseram uma crise de credibilidade sem precedentes na instituição.

Oficialmente, o procedimento é classificado como ordinário. No entanto, o contexto é tudo. A inspeção vasculhará setores administrativos e judiciais justamente quando o tribunal se vê no epicentro de investigações que conectam seus membros a esquemas de venda de decisões e a uma organização criminosa.

A ponta do iceberg

O estopim da crise mais recente foi o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em 5 de dezembro de 2023. O que parecia ser apenas um crime brutal revelou-se a ponta de um iceberg de corrupção. Investigações no celular da vítima descortinaram um suposto esquema de venda de sentenças que abalou as estruturas do Judiciário mato-grossense.

As apurações levaram à Operação Sisamnes, que, em agosto de 2024, culminou no afastamento cautelar dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho. Segundo a Corregedoria, ambos são suspeitos de manter “amizade íntima” com Zampieri e receber vantagens financeiras, incluindo duas barras de ouro, para julgar recursos conforme os interesses do advogado. A troca de 768 mensagens entre Sebastião de Moraes e Zampieri, onde o advogado parecia ditar os rumos de processos judiciais, evidenciou uma relação descrita pelos investigadores como de “subserviência”. A investigação também constatou que a esposa e um filho do desembargador, oficialmente lotados em outros gabinetes, na verdade trabalhavam no gabinete de Sebastião.

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A primeira fase da operação, em novembro de 2024, resultou na prisão do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como peça central no esquema. A segunda fase, em dezembro, focou na lavagem de dinheiro, revelando o uso de operações imobiliárias suspeitas e resultando no bloqueio de R$ 1,8 milhão. Em maio de 2025, as apurações se estenderam ao juiz Ivan Lúcio Amarante, também afastado.

Do tribunal ao crime organizado

A trama ganhou contornos ainda mais sombrios com a descoberta do “Comando C4: Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”. A investigação revelou que este grupo, composto por militares, funcionava como uma agência de extermínio por encomenda e teria sido o responsável pela execução de Roberto Zampieri. Com uma tabela de preços que chegava a R$ 250 mil para espionar ministros do STF, o grupo utilizava drones e táticas avançadas. Cinco suspeitos foram presos, incluindo o coronel da reserva Luiz Caçadini, apontado como o financiador do crime.

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Fantasmas do passado

Para quem acompanha o TJMT, a sensação é de déjà vu. Entre 2003 e 2005, um esquema desviou mais de R$ 1,4 milhão para uma loja maçônica presidida pelo então chefe do Judiciário estadual, José Ferreira Leite. A fraude foi confirmada por uma auditoria da consultoria Velloso & Bertoni Ltda., que apontou “pagamentos de correção monetária abusivos e exagerados”.

O caso resultou na aposentadoria compulsória de dez magistrados em 2010, que passaram a custar mais de R$ 3,4 milhões anuais em valores brutos aos cofres públicos. Contudo, em uma reviravolta que causa perplexidade, decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022 reverteram as punições, permitindo o retorno dos magistrados. Vários deles, então, processaram o estado, resultando em pagamentos milionários — apenas três juízes, por exemplo, conseguiram receber R$ 16,9 milhões em diferenças salariais.

O peso financeiro da suspeita

Enquanto as investigações avançam, os cofres públicos continuam a arcar com os custos da suspeição. Os desembargadores afastados, amparados pela presunção de inocência, seguem recebendo salários integrais. Entre agosto de 2024 e janeiro de 2025, João Ferreira Filho recebeu R$ 482.610,29 líquidos. No mesmo período, Sebastião de Moraes Filho recebeu R$ 462.329,41. Paralelamente, o Superior Tribunal de Justiça passou a anular decisões proferidas por eles, determinando novos julgamentos para preservar a segurança jurídica.

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Devassa minuciosa

É neste cenário complexo que a equipe de Mauro Campbell Marques atuará. Composta por cerca de 40 pessoas, a força-tarefa terá acesso irrestrito a gabinetes, sistemas e documentos. A inspeção abrangerá a cúpula do TJMT, incluindo os gabinetes da presidência, vice-presidência e corregedoria-geral, além de unidades em Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio do Leverger e Poconé.

Os trabalhos forenses não serão suspensos, mas a presença constante dos auditores do CNJ é um lembrete inequívoco de que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso está, mais uma vez, sob um intenso e necessário escrutínio.

Para entender melhor:

  • Operação Sisamnes: O nome faz alusão a um juiz persa da antiguidade que, segundo a lenda, foi esfolado vivo por ordem do rei por ter aceitado suborno e proferido uma sentença injusta. Sua pele foi usada para forrar a cadeira em que seu filho, o novo juiz, se sentaria, como um lembrete perpétuo sobre a integridade.
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Linha do tempo dos escândalos do TJMT

Data Evento Descrição
2003-2005 Escândalo da Maçonaria Desvio de R$ 1,4 milhão para loja maçônica durante presidência de José Ferreira Leite
2010 Afastamento dos Magistrados CNJ determina aposentadoria compulsória de 10 magistrados por beneficiar maçonaria
5 de dezembro de 2023 Assassinato de Roberto Zampieri Advogado morto com 10 tiros em Cuiabá, revelando esquema de venda de sentenças
Agosto de 2024 Afastamento dos Desembargadores CNJ afasta Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho por venda de sentenças
Outubro de 2024 Afastamento do Juiz CNJ afasta juiz Ivan Lúcio Amarante da comarca de Vila Rica
26 de novembro de 2024 1ª Fase da Operação Sisamnes PF prende lobista Andreson de Oliveira Gonçalves
20 de dezembro de 2024 2ª Fase da Operação Sisamnes Investigação de lavagem de dinheiro, bloqueio de R$ 1,8 milhão
18 de março de 2025 3ª Fase da Operação Sisamnes Foco em vazamento de informações do STJ
25 de março de 2025 Abertura de PAD CNJ instaura processo disciplinar contra Sebastião de Moraes Filho
13 de maio de 2025 5ª Fase da Operação Sisamnes Bloqueio de R$ 20 milhões em investigação de lavagem de dinheiro
14 de maio de 2025 6ª Fase da Operação Sisamnes Duas prisões preventivas por obstrução da justiça
27 de maio de 2025 PAD contra Juiz CNJ instaura processo contra Ivan Lúcio Amarante
28 de maio de 2025 7ª Fase da Operação Sisamnes Descoberta do “Comando C4”, prisão de 5 suspeitos do assassinato de Zampieri
29 de maio de 2025 8ª Fase da Operação Sisamnes Afastamento de magistrado, bloqueio de R$ 30 milhões
30 de maio de 2025 9ª Fase da Operação Sisamnes Investigação de vazamento de informações sigilosas

 

 

 

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