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Política em Mato Grosso

Pai de vítima, deputado se recusa a assinar CPI do feminicídio em Mato Grosso ,e ALMT enterra pedido

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No estado campeão de mortes de mulheres, Gilberto Cattani, que perdeu a filha para a violência de gênero, opta por não apoiar investigação parlamentar em meio a denúncias de pressão política.

Em um caso que expõe as profundas contradições entre o discurso político e a tragédia pessoal, o deputado estadual Gilberto Cattani (PL) se recusou a assinar o requerimento para a criação da CPI do Feminicídio na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. A decisão ocorre pouco mais de um ano após sua própria filha, Raquel Cattani, de 26 anos, ter sido brutalmente assassinada a mando do ex-marido, um crime que chocou o estado. Enquanto Mato Grosso lidera pelo segundo ano consecutivo o ranking nacional de feminicídios, a proposta de investigação perde força nos bastidores do poder.

A confirmação da recusa veio na última segunda-feira, 25 de agosto, pela própria proponente da comissão, a deputada Edna Sampaio (PT). “Cattani não quis assinar. Isso eu posso dizer”, declarou Sampaio em entrevista à Rádio Vila Real, pondo fim às especulações sobre o posicionamento do parlamentar que vivenciou o problema de forma tão devastadora.

A manobra para esvaziar a CPI

A iniciativa de investigar as falhas na rede de proteção às mulheres em Mato Grosso enfrenta um caminho tortuoso. Na mesma segunda-feira, a CPI sofreu um duro golpe quando quatro deputados retiraram suas assinaturas, reduzindo o apoio de doze para oito, exatamente o número mínimo necessário para que a proposta continue tramitando.
A deputada Janaina Riva (MDB) não escondeu a frustração e criticou publicamente os colegas, afirmando que eles seriam “cobrados pela sociedade”. Nos corredores da Assembleia, a informação que circula é de uma forte pressão do governo estadual para minar a investigação. A justificativa, segundo fontes, seria evitar um “grande desgaste e prejuízo às eleições do ano que vem”. A dificuldade não é nova. Conforme Edna Sampaio, a aprovação de comissões de inquérito na casa nunca foi uma tarefa fácil.

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O crime que abalou uma família

A posição de Cattani se torna ainda mais emblemática quando se recorda a brutalidade do crime que vitimou sua filha. Em 19 de julho de 2024, o corpo de Raquel Cattani foi encontrado com mais de 30 facadas em sua casa na zona rural de Nova Mutum. Ela era mãe de duas crianças pequenas e uma empresária premiada pela produção de queijos artesanais.
A investigação da Polícia Civil concluiu se tratar de um feminicídio meticulosamente planejado. O ex-marido de Raquel, Romero Xavier, inconformado com o fim do relacionamento de nove anos, pagou R$ 4 mil ao próprio irmão, Rodrigo Xavier, para que executasse o assassinato. O dinheiro, em uma cruel ironia do destino, havia sido recebido por Romero do próprio deputado Cattani, como pagamento por um serviço de reparo de cercas na propriedade da família.
Enquanto o crime era cometido, Romero construía um álibi: almoçou com o ex-sogro, frequentou casas noturnas em outra cidade e enviou mensagens para a família, tudo para simular distância e normalidade.

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Um discurso de contradições

A recusa em apoiar a CPI contrasta não apenas com sua dor pessoal, mas também com o histórico recente do deputado. Cattani tem cobrado publicamente “pena máxima” para os assassinos da filha e criticado a lentidão da Justiça. No entanto, antes da tragédia familiar, em junho de 2025, ele chegou a minimizar a Lei do Feminicídio, argumentando que “mulher também mata homem” e que a raiz do problema seria a “banalização da família”, e não o machismo estrutural.
Sua atuação legislativa também reflete essa seletividade. Ele foi autor de uma lei, aprovada em agosto de 2024, que permite o porte de arma para mulheres sob medida protetiva e de outro projeto que impede condenados por violência doméstica de assumirem mandatos. Contudo, quando a proposta é investigar de forma ampla as políticas públicas de combate ao feminicídio, o apoio desaparece.

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Para entender melhor: Mato Grosso no topo da violência

* Liderança nacional: Pelo segundo ano seguido, o estado tem a maior taxa de feminicídios do Brasil, com 2,5 mortes a cada 100 mil mulheres em 2024.
* Tendência em 2025: Até agosto deste ano, pelo menos 31 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado.
* Onde o crime acontece: Mais de 70% dos casos ocorrem dentro da casa da vítima, com o uso de armas brancas sendo o método mais comum (43%).

O episódio revela uma complexa teia que mistura luto, convicções políticas e cálculos eleitorais. Enquanto a vida das mulheres parece valer pouco para parte do poder, a pergunta que fica é: se nem a dor de perder uma filha é capaz de unir os parlamentares em torno de uma causa, o que será preciso para estancar a sangria em Mato Grosso?
Atualização às 21h: incluída a informação sobre o número de assinaturas remanescentes na CPI.

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ALMT

URGENTE: Pesca no Manso – manobra na ALMT beneficia pousadas e cria bomba-relógio jurídica

Um substitutivo de projeto de lei sobre a pesca no Lago do Manso, em Mato Grosso, avança na ALMT com um artigo que beneficia pousadas. A proposta cria um conflito direto com a Lei do Peixamento, atualmente suspensa, gerando alto risco de insegurança jurídica na região.

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Proposta de lei na Assembleia Legislativa de MT para a pesca no Lago do Manso gera insegurança jurídica e suspeita de favorecimento a interesses privados.
Proposta de lei na Assembleia Legislativa de MT para a pesca no Lago do Manso gera insegurança jurídica e suspeita de favorecimento a interesses privados.Foto: Rogério Florentino

Uma proposta que altera as regras de pesca no Lago do Manso ignora lei existente e acende alerta para insegurança jurídica e possível favorecimento de setor privado.

Nos bastidores da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, uma manobra legislativa arriscada avança silenciosamente. Sob o pretexto de uma simples correção técnica, o Substitutivo Integral nº 01 ao Projeto de Lei nº 1144/2025 não apenas altera o nome de um futuro sítio pesqueiro, mas também insere, na letra miúda, um benefício direto para pousadas da região e coloca em rota de colisão duas leis com visões opostas para o futuro do Lago do Manso. A proposta, que tramita enquanto uma lei conflitante está suspensa por decisão judicial, cria um cenário de profunda insegurança jurídica, uma verdadeira aposta no resultado de um processo que ainda corre na justiça.

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso vota nesta quarta-feira (20) o projeto.

Uma mudança sutil, um benefício direto – o jabuti

À primeira vista, a alteração proposta pelo substitutivo parece um mero ajuste burocrático. O nome “Sítio Pesqueiro Estadual do Manso” seria trocado por “Sítio Pesqueiro Estadual de Chapada dos Guimarães/MT e Nova Brasilândia/MT” para evitar duplicidade com outro já existente. A justificativa oficial para a mudança para por aí. Contudo, uma análise mais atenta revela uma inclusão estratégica no artigo 6º: um parágrafo único que autoriza expressamente:

“as pousadas localizadas as margens do sitio pesqueiro” a “promover a prática da pesca desportiva”.

Este acréscimo, ausente no projeto original, direciona uma vantagem clara a um setor econômico específico. A manobra se torna ainda mais suspeita pelo fato de a justificativa do substitutivo omitir completamente qualquer menção a essa nova permissão, focando apenas na questão do nome. Fica a pergunta: por que incluir um benefício tão direto a um grupo sem um debate transparente sobre seus impactos? A própria justificativa do projeto original já revelava um forte apelo econômico, destacando que a pesca esportiva movimenta R$ 500 milhões no estado e tem potencial para alcançar R$ 2 bilhões anuais, um contexto que torna a inserção cirúrgica do parágrafo, no mínimo, sugestiva de lobby.

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O fantasma da lei suspensa

O maior problema, entretanto, é de natureza jurídica e cria um conflito aparentemente insolúvel. O novo projeto de lei ignora a existência da Lei Estadual nº 11.702/2022, conhecida como “Lei do Peixamento”. Embora a eficácia desta lei esteja atualmente suspensa por uma ação judicial movida por Furnas Centrais Elétricas, ela não foi revogada. Caso a decisão judicial seja revertida, Mato Grosso terá duas normas vigentes e absolutamente contraditórias para a mesma área.

As diferenças são gritantes. A Lei do Peixamento, focada na recuperação ambiental, proíbe o abate e permite exclusivamente a pesca na modalidade “pesque e solte” por três anos. Já o novo projeto abre as portas para múltiplas atividades, incluindo pesca comercial, piscicultura familiar e industrial em tanques-rede, e uma pesca de subsistência muito mais ampla e sem cotas definidas. Enquanto a lei suspensa limita a subsistência a cinco quilos por indivíduo de comunidades cadastradas, a nova proposta libera a prática de forma genérica para “ribeirinhos, chacareiros, sitiantes”, anulando o controle anterior.

Em essência, são duas filosofias opostas: uma busca a recuperação do ecossistema através de restrições; a outra, o desenvolvimento econômico via exploração imediata. A aprovação do novo projeto é uma aposta de que a Lei do Peixamento permanecerá suspensa para sempre, uma atitude descrita por analistas jurídicos como tecnicamente imprudente e juridicamente temerária.

Manso: uma aposta arriscada em terreno federal?

Para completar o cenário de incertezas, há dúvidas sobre a própria competência do Estado para legislar de forma tão específica sobre o reservatório da UHE Manso. O fato de Furnas, a concessionária da usina, ter contestado e conseguido suspender a lei anterior na justiça é um forte sinal de que a gestão do lago pode envolver esferas federais. A nova lei, portanto, já nasce com o risco de enfrentar o mesmo destino de sua antecessora: uma longa batalha judicial.

A tramitação do projeto, nestes moldes, representa uma tentativa de contornar a lei existente, aproveitando uma janela de oportunidade judicial. A conduta mais prudente, segundo especialistas, seria aguardar a decisão final sobre a Lei do Peixamento ou propor a sua revogação explícita, promovendo um debate claro sobre qual modelo de gestão se deseja para o lago, em vez de criar uma sobreposição de normas que só trará prejuízos ao meio ambiente e à segurança dos investimentos na região.

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Para entender melhor:

  • Substitutivo Integral: É um novo texto que substitui completamente um projeto de lei original. Em teoria, serve para corrigir e aprimorar a proposta.
  • Insegurança Jurídica: Ocorre quando há leis confusas, contraditórias ou instáveis, fazendo com que cidadãos e empresas não saibam quais regras seguir, o que desestimula investimentos e gera conflitos.
  • Vício de Competência Legislativa: Um erro legal que acontece quando um órgão (como uma Assembleia Estadual) cria uma lei sobre um assunto que, pela Constituição, deveria ser legislado por outro (como o Congresso Nacional).
  • Antinomia Jurídica: É o conflito direto entre duas ou mais normas válidas dentro do mesmo sistema legal, onde uma proíbe o que a outra permite.

 

Quer se informar sobre meio ambiente em MT? Acesse o site www.lupamt.com

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