POLÍTICA NACIONAL
Ministro defende atuação da CGU e diz que órgão cobrou medidas do INSS

Em depoimento à CPMI do INSS nesta quinta (2), o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, defendeu o secretário de Controle Interno, Ronald Balbe, responsável pela auditoria do órgão que apontou fraudes em benefícios.
Segundo o ministro, Balbe cobrou providências do INSS em reunião com servidores em 2024, quando auditores apresentaram o primeiro relatório com indícios de descontos irregulares.
Carvalho afirmou aos parlamentares ter convicção de que eventual orientação de sigilo por parte do secretário, se houve, pode ter decorrido de imperativo legal para proteger as investigações. E sustentou que a controladoria cumpriu sua função, com a elaboração de auditorias que motivaram a investigação de um problema que já era discutido desde 2019 no órgão.
O esclarecimento sobre eventual sigilo veio após questionamentos do relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), sobre reportagem segundo a qual o servidor teria sugerido, durante reunião, que o INSS instituísse uma “pauta positiva” quando o órgão divulgasse o relatório da CGU sobre os achados referentes aos descontos irregulares praticados pelas associações. Alfredo Gaspar ainda citou trecho da matéria que, segundo ele, relatava que houve orientação de Balbe para manter em sigilo partes do relatório.
— É correto que um servidor de um órgão que exige transparência está sugestionando duas coisas: primeiro, [está] mais preocupado com a publicidade da descoberta do que com a própria descoberta; e, segundo, sugerindo ao INSS tornar parte do relatório sigilosas? — questionou o deputado.
Os três relatórios preliminares de auditoria na qual foi diagnosticada o “súbito aumento no montante dos descontos de mensalidades associativas realizados na folha de pagamento de beneficiários do INSS” foram encaminhados em julho do ano passado. Neste ano, a CGU elaborou outro relatório, que apontou que cerca de 97% dos descontos associativos nos benefícios previdenciários não tinham autorização dos beneficiários. Os pareceres foram encaminhados à Polícia Federal, que em abril desencadeou a Operação Sem Desconto, em conjunto com a controladoria.
O ministro da CGU enfatizou que Ronald Balbe é auditor do órgão há mais de 20 anos, “ultrarrespeitado” por toda a equipe, e que sua indicação para a secretaria de Controle Interno foi quase “um consenso” dos auditores.
— O que ele disse é: “Olha, é muito importante que o dia em que isso vier a público, essas soluções já estejam na rua”. Infelizmente não aconteceu. Isso veio a público por conta da operação que nós fizemos com a Polícia Federal, e o INSS ainda não tinha providenciado todas as soluções necessárias — esclareceu.
Sobre o levantamento da hipótese de o servidor ter orientado sigilo sobre o relatório, o ministro explicou que ele estaria sugerindo a existência de algum “imperativo legal”, para proteger o processo de investigação.
— Talvez, a preocupação dele naquele momento foi exatamente com essa questão [com o desenrolar das investigações da PF]. Depois da operação da Polícia Federal realizada, não tinha por que se ter nada sigiloso no relatório.
Primeiras suspeitas
O relator quis saber a partir de qual momento o ministro teve conhecimento das fraudes nos descontos e quais fatos despertaram o alerta da dimensão do problema.
O ministro da CGU explicou que teve acesso às primeiras informações em março de 2024, após pedido de informações de jornalistas do portal Metrópoles, por meio da Lei de Acesso à Informação.
Vinicius Carvalho também informou que o plano de auditoria da CGU, elaborado em 2022 para ser executado em 2023, apontava a existência de um grupo interinstitucional que já discutia a elaboração de relatórios sobre irregularidades em descontos associativos.
— Foram dois pontos de alerta. Um ponto de alerta foi a preocupação que já existia em relação aos descontos associativos, por conta de denúncias que já haviam sido feitas em alguns momentos. Desde 2019, foram mais de 11 reuniões daquele grupo interinstitucional em que se discutia descontos associativos. Havia uma preocupação muito grande, porque havia aumentado o número de entidades que assinavam o acordo de cooperação técnica (ACT) com o INSS; ou seja, acordos que autorizavam essas entidades a realizarem esses descontos. Havia uma preocupação sobre a seriedade dessas entidades, e no ano de 2022 e no ano de 2023 houve um aumento no número desses descontos.
O segundo ponto de alerta foi o crescimento dos valores descontados, disse Carvalho.
Alerta ao governo
Alfredo Gaspar citou como “contradição” as afirmações feitas por Vinicius Carvalho e pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre o governo não ter tido conhecimento das irregularidades cometidas pelas associações.
De acordo com o relator, na época em que a operação foi deflagrada e o assunto tomou conta da pauta nacional, o ministro da CGU teria dito que “todo mundo sabia desse problema do INSS”. Por outro lado, Rui Costa teria dito que o órgão cometeu um erro ao não alertar o governo.
— Sem querer criar polêmica, mas a gente está diante de uma contradição frontal a outra. Quem está faltando com a verdade? Rui Costa, que disse que a CGU falhou, ou Vossa Excelência afirmando pela CGU que todo mundo sabia do que estava acontecendo no INSS? — perguntou Gaspar.
O ministro da CGU reforçou que, ao se referir que “todo mundo sabia”, era no sentido de que como o grupo interinstitucional era formado por auditores e representantes de órgãos como Defensoria, Ministério da Previdência, AGU e INSS, isso indicava que o assunto era de conhecimento de outras instâncias do governo.
Ainda de acordo com Carvalho, Rui Costa teria se referido a esse assunto porque a auditoria e “os problemas que estavam sendo detectados não tinham sido levados ao centro do governo”.
Ele explicou que considerou como “caminho institucional mais adequado”, naquele momento, preservar o sigilo das informações para que a Polícia Federal e a equipe técnica da CGU dessem seguimento às investigações de forma célere e eficiente, no sentido de identificar todas as pessoas envolvidas, buscar a responsabilização delas e “sanar de vez” o problema.
Encerramento dos ACTs
O depoente informou ainda que, quando o relatório foi entregue ao INSS, em de julho de 2024, 29 entidades associativas estavam sendo investigadas. Alfredo Gaspar quis saber por que a CGU não atuou para interromper, imediatamente, esses acordos de cooperação.
— Por que o senhor, com a responsabilidade de chefiar a principal instituição dentro do governo para combater a corrupção e o desvio, por que o senhor não determinou a quem de direito, com o poder da CGU, de encerrar imediatamente, até uma segunda ordem, depois de uma fiscalização, a execução desses ACTs, já que vocês tinham descoberto nesse relatório preliminar a ausência de capacidade do INSS de fiscalizar qualquer ACT vigente?
O depoente informou que todas as reuniões e relatórios da CGU com o INSS foram no sentido de orientar a suspensão dos descontos, naquele momento. Sobre o encerramento dos ACTs, ele esclareceu que medidas cautelares como essa exigem processos administrativos de responsabilização que foram instaurados com a operação, a partir de abril de 2024.
— Então é uma sequência de atos que demandam uma conclusão e que têm um protocolo, um procedimento a ser seguido — respondeu.
Carvalho ainda disse concordar com a “visão de manter suspensos” os descontos associativos até que se decida, formalmente, por não realizá-los mais, ou que se constitua um sistema que gere uma “imunidade para que os descontos sejam adequados”.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte: Agência Senado

POLÍTICA NACIONAL
CPMI ouvirá empresário investigado na Operação Sem Desconto

O empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, ex-sócio do advogado Nelson Wilians, será ouvido na segunda-feira (6) a partir das 16h, pela CPMI do INSS.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (2) pelo presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), durante a reunião em que ocorreu o depoimento do ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho.
A convocação desse empresário, que atua no Distrito Federal, foi solicitada em quatro requerimentos aprovados pela comissão (REQ 1.818/2025, REQ 1.822/2025, REQ 1.907/2025 e REQ 1.956/2025). Ele foi um dos alvos da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que investiga o esquema de descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões do INSS.
Em um dos requerimentos, a senadora Leila Barros (PDT-DF) lembrou que Fernando Cavalcanti foi sócio de Nelson Wilians (que já depôs à CPMI) e teve vários bens apreendidos na operação, entre eles uma Ferrari, uma réplica de um carro de Fórmula 1, relógios de luxo e uma grande soma em dinheiro. A senadora também ressaltou que Fernando Cavalcanti é apontado como sócio e dirigente de empresas que atuam em áreas conexas ao setor investigado.
Depoimento
O depoimento do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, começou por volta das 10h30 e durou cerca de 10 horas. Carlos Viana declarou que a comissão está fazendo a sua parte, mesmo que outras instâncias não cumpram as suas. Ele comentou a soltura, pela Justiça, de investigados presos em flagrante pela CPMI do INSS.
— Esta CPMI cumprirá o seu dever. Se outras instâncias não cumprirem, o Brasil saberá onde está a falha. Não estamos aqui para espetáculo; estamos aqui para fazer justiça. Se depender desta comissão, quem rouba aposentado, quem mente diante do Parlamento, vai pagar o preço. E afirmo: não haverá tolerância, não haverá blindagem — disse o presidente da comissão.
Para o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), o depoimento desta quinta-feira deixou clara a demora na ação da CGU, que não deveria ter permitido dois anos de manutenção de desvios de recursos de aposentados e pensionistas.
— Em 2024 já havia conhecimento, por parte do chefe da CGU. Mas em 2023 já havia comunicação inclusive do Tribunal de Contas à CGU. O que é que a CGU poderia ter feito? Uma medida cautelar para suspender esses ACTs [acordos de cooperação técnica]. Nós teríamos economizado aí R$ 1,5 bilhão ou R$ 2 bilhões em desvios. Resumo da ópera: havia uma porta aberta para a corrupção, sem nenhuma fiscalização. Muita gente botou dinheiro no bolso — criticou o relator em entrevista coletiva.
Consignados
Gaspar destacou que a CPI tem entre seus desafios investigar irregularidades com os empréstimos consignados, que, na sua avaliação, têm uma dimensão muito maior que as irregularidades nos descontos associativos. Ele sugeriu ao ministro da CGU a suspensão cautelar desses consignados.
Em resposta, Vinicius Marques de Carvalho afirmou que a equipe da controladoria está fazendo o seu trabalho e que uma suspensão cautelar pode ocorrer após uma análise aprofundada dos dados.
— A equipe da CGU está fazendo os seus estudos sobre a questão dos consignados. Assim que chegar a conclusões que podem confirmar isso que o senhor está falando, e se achar que é o caso de pedir uma medida cautelar com uma análise profunda (…), a equipe da CGU vai fazer esse trabalho. Eu não tenho dúvida de que nós temos os melhores auditores da CGU trabalhando nesses temas, e eles vão tomar todas as medidas que forem necessárias.
Investigação
Para Rogerio Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, há parlamentares preocupados em desvendar as fraudes no INSS, mas há outros que se preocupam apenas em colocar a culpa desse escândos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na visão do senador, a história vai trazer clareza aos fatos.
O líder da oposição voltou a afirmar que houve um aumento exponencial no número de descontos associativos de aposentados após o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como do número de pedidos de exclusão dos descontos feitos pelo canal oficial do INSS.
— Mesmo com essa explosão de pedidos de retirada, de reclamações feitas pelo canal oficial do INSS, o governo parece que não tomou as providências para atacar o problema. Só o fez, e é importante que se diga de novo, quando a Justiça determinou o afastamento do presidente do INSS. Foi a Justiça, não foi o governo Lula — reiterou Marinho.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), declarou que “o ventre de fecundação das fraudes” foram os acordos de cooperação técnica (ACTs) firmados pelo INSS com entidades responsáveis pelas autorizações de desconto. Ele destacou que 50% das fraudes se concentram em três entidades, cujos ACTs foram firmados pelo ex-ministro da Previdência Social José Carlos Oliveira, durante o governo de Jair Bolsonaro.
— O governo presidente Lula recebeu centenas de heranças malditas. Essa foi uma herança maldita recebida pelo nosso governo — enfatizou Randolfe.
Avaliação
Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), o depoimento do ministro da CGU foi “extremamente esclarecedor” e não deixou dúvidas sobre os passos da investigação. Na avaliação do deputado, há, por parte de parlamentares oposicionistas, uma estratégia de tentar intimidar os depoentes ao fazer perguntas e não permitir que eles respondam. Segundo Pimenta, há integrantes da comissão que tentam desviar o foco com objetivos que precisam ser esclarecidos.
— Percebi claramente que há uma tentativa de intimidação, uma forma covarde de comportamento que aumenta o tom contra algumas pessoas e é cordial e subserviente com outras pessoas. Não será tentando intimidar, fazendo perguntas sem dar o direito de que o depoente as responda, ou tentando achar contradições onde elas não existem, que nós vamos abrir mão do foco dessa investigação — enfatizou o deputado.
Tanto Pimenta quanto a senadora Leila Barros defenderam a convocação de Wagner Rosário, que foi ministro da CGU no governo Bolsonaro, para prestar depoimento.
— Nós queremos saber do [ministro] anterior, que ficou quatro anos. (…) Vamos convocá-lo para a semana que vem, porque aí a gente não perde o timing e vamos ouvir os dois últimos [ministros da] CGU aqui. Eu acho que seria ótimo até pedir apoio do nosso relator também, não é? — questionou Leila.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou ter sentido angústia com o depoimento em razão das brigas entre parlamentares. Para ela, a CPMI precisa cumprir seu papel de chegar aos verdadeiros responsáveis pelas fraudes.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte: Agência Senado
-
Turismo7 dias ago
Ministério do Turismo explica novas regras de entrada e saída em meios de hospedagem
-
DESTAQUE3 dias ago
Unimed é processada por decisão unilateral que causou “regressões graves” e sofrimento a menino autista de seis anos
-
DESTAQUE4 dias ago
Autismo em Mato Grosso: o mito do aumento de 400% e a realidade por trás dos números, veja vídeo
-
DESTAQUE3 dias ago
Unimed ignora acordo com MP e impõe a criança de 06 anos cobranças de R$ 8 mil por tratamento de autismo