Reforma tributária
Câmara aprova isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil E desconto para quem ganha até R$ 7 mil, entenda

Medida, aprovada por unanimidade, era a principal promessa de campanha do presidente Lula e deve beneficiar 16 milhões de brasileiros a partir de 2026 se passar pelo senado.
Num raro momento de consenso que atravessou todo o espectro político, a Câmara dos Deputados deu luz verde, nesta quarta-feira (1º), a uma mudança profunda no Imposto de Renda da Pessoa Física. Com 493 votos favoráveis e nenhum contrário, foi aprovado o Projeto de Lei 1.087/2025, que eleva a faixa de isenção para salários de até R$ 5 mil mensais, uma medida que promete aliviar o orçamento de milhões de famílias e que agora segue para a análise do Senado Federal.
A proposta, uma das bandeiras centrais da campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, representa a mais significativa correção na tabela do IR em anos, atacando uma defasagem que já ultrapassa 150% desde o último reajuste, em 2015. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), celebrou o resultado como “um alívio no bolso dos trabalhadores”, fruto de uma “intensa articulação política” que uniu governo e oposição.
O que muda na prática
A nova legislação, se sancionada, altera drasticamente o cenário para a classe média. Atualmente, a isenção do imposto alcança apenas quem tem rendimentos de até R$ 3.036 por mês. Com a aprovação, 10 milhões de pessoas deixarão de pagar o tributo completamente, enquanto outros 6 milhões se beneficiarão de um novo sistema de descontos parciais.
Para quem ganha entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350, o projeto cria um desconto escalonado que pode chegar a R$ 978,62 mensais, uma modificação incluída pelo relator, deputado Arthur Lira (PP-AL), que ampliou a faixa originalmente proposta pelo governo, que ia até R$ 7 mil. Contribuintes com renda superior a R$ 7.350 mensais, por sua vez,
permanecem sob as regras atuais, com alíquotas que variam de 7,5% a 27,5%.
Para ilustrar o impacto direto no orçamento familiar, o Ministério da Fazenda calcula que um motorista com salário de R$ 3.650,66 deixará de pagar R$ 1.058,71 ao longo de um ano. Já uma professora que recebe R$ 4.867,77 mensais terá uma economia anual de R$ 3.970,18, um valor que faz diferença no fim do mês.
A conta dos super-ricos
Para viabilizar a renúncia fiscal, estimada em R$ 31,25 bilhões, o projeto mira no topo da pirâmide social. A compensação virá da tributação de rendas muito altas, um ajuste que busca trazer mais progressividade ao sistema.
A principal medida é a criação de um imposto mínimo de 10% para contribuintes com renda anual superior a R$ 600 mil, um universo de aproximadamente 141,4 mil pessoas. A alíquota sobe progressivamente, atingindo o teto de 10% para quem aufere R$ 1,2 milhão por ano ou mais. Além disso, o texto estabelece uma retenção de 10% na fonte sobre lucros e dividendos que excedam R$ 50 mil mensais, afetando cerca de 1% dos declarantes.
A justificativa para a mudança se apoia em dados alarmantes. Segundo o Sindifisco Nacional, os super-ricos no Brasil pagam, na prática, uma alíquota média de apenas 2,5% sobre seus rendimentos totais, enquanto a classe média arca com uma carga efetiva entre 9% e 11%. Essa distorção, que coloca o Brasil entre os dez piores países em distribuição de renda no mundo, é o que o governo busca corrigir.
Para entender melhor:
• Sistema Tributário Progressivo: Funciona como uma escada. Você não paga a alíquota máxima sobre toda a sua renda. Cada “degrau” de renda tem uma porcentagem de imposto diferente. Por exemplo, com a nova regra, quem ganha R$ 6 mil terá os primeiros R$ 5 mil isentos e pagará a alíquota de 7,5% apenas sobre os R$ 1 mil que excedem esse limite.
• Princípio da Anterioridade Anual: É uma regra constitucional que impede que um novo imposto ou o aumento de um já existente seja cobrado no mesmo ano em que a lei foi criada. Por isso, para que as novas regras do IR valham para os rendimentos de 2026, a lei precisa ser aprovada e sancionada ainda em 2025.
Tramitação e críticas
Enviado ao Congresso em março, o projeto ganhou celeridade após a Câmara aprovar a polêmica “PEC da Blindagem” em setembro, que acabou sendo derrubada no Senado. A votação do IR foi vista nos bastidores como uma estratégia para “tirar da frente pautas tóxicas”, como admitiu o próprio Hugo Motta.
Agora no Senado, a expectativa do governo é de uma aprovação rápida. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está otimista. “Eu tenho visto, por parte dos senadores, das lideranças, uma receptividade muito grande a esse projeto”, afirmou. Haddad classificou a reforma como “a primeira real tentativa do Estado brasileiro para mexer no tema da desigualdade” e chegou a projetar a sanção presidencial ainda para este mês de outubro.
O presidente Lula também demonstrou confiança: “Estou convencido de que a Câmara vai aprovar. Estou convencido de que o Senado vai aprovar”. A pressa se justifica: para que a lei entre em vigor em 2026, afetando a declaração de 2027, ela precisa ser sancionada até o fim deste ano.
Apesar do amplo apoio político, a proposta não está isenta de críticas. Grupos afetados pela nova tributação sobre altas rendas apresentaram mais de 50 emendas na tentativa de alterar o texto. Críticos como Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras, veem a medida como “mero populismo tributário”, argumentando que “o futuro de uma economia não se constrói com transferências”.
Economistas também debatem a real efetividade da mudança. Análises como a do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE/USP) apontam que a medida promove uma “redução da desigualdade, embora marginal”, alterando principalmente “na primeira ou segunda casa decimal” dos indicadores. No fim das contas, a discussão é se fazer 0,13% dos contribuintes compensarem o benefício para 65% da base tributária será suficiente para gerar uma transformação estrutural.
Ainda assim, a aprovação unânime na Câmara é um marco. Sinaliza que, quando o foco é o bem-estar das famílias trabalhadoras, é possível construir pontes sobre divisões ideológicas, dando um passo importante, mesmo que modesto, em direção a um sistema tributário um pouco mais justo.

CUIABÁ
Diretor de arte é preso no bairro Doutor Fábio Leite após agredir e ameaçar ex-companheira

Suspeito quebrou celular da vítima ao descobrir que ela trabalha como acompanhante; ele foi solto após audiência de custódia.
Um diretor de arte de 24 anos foi preso em flagrante na manhã deste domingo (5), em uma residência na Rua Beija Flor, no bairro Doutor Fábio Leite, em Cuiabá. Ele é acusado de lesão corporal, dano e ameaça contra sua ex-companheira, uma autônoma de mesma idade. A escalada de violência começou, segundo os registros, depois que o suspeito, J.P.N.M., descobriu que a vítima, L.G.O.M., trabalha como acompanhante, resultando na destruição do celular dela e em uma lesão em sua mão. Apesar da prisão e de um histórico de violência doméstica, ele foi liberado no final da tarde após passar por uma audiência de custódia.
A manhã de fúria
O caso veio à tona por volta das 9h, quando uma guarnição da Polícia Militar, acionada pelo Ciosp, chegou ao local. Os policiais, comandados pelo Sargento Sergio Fontana de Oliveira, encontraram L.G.O.M. do lado de fora da casa, chorando e com o celular completamente danificado em mãos. Ela contou aos agentes que estava separada de J.P.N.M. há cerca de um ano, mas que mantinham uma relação de convivência por causa da filha de dois anos que têm em comum.
Na noite anterior, o ex-casal havia participado de um evento da empresa onde ele trabalha e, em seguida, dormiram na casa dela. A tranquilidade aparente, no entanto, se desfez pela manhã. Conforme o boletim de ocorrência, o suspeito pegou o celular da vítima sem permissão. Ao vasculhar o aparelho, ele descobriu que ela atua como acompanhante. A revelação, segundo o relato policial, o deixou “bastante exaltado”, dando início à sequência de agressões.
“Cuidado com a sua moto”
Em depoimento formal na Plantão de Atendimento à Vítima de Violência Doméstica, L.G.O.M. detalhou o ocorrido à delegada Carla Evangelista Lindenberg Nogueira. Ela afirmou que o ex-companheiro, “tomado de fúria”, quebrou o aparelho telefônico. No momento em que tentou pegar o celular de volta, ele teria forçado sua mão, causando uma lesão.
Além da violência física e do dano ao patrimônio, vieram as ameaças. A vítima relatou que J.P.N.M. disse em tom intimidatório: “Cuidado com a sua moto, para não ser roubada” e “Eu vou tirar a guarda da sua filha”. Essa não era a primeira vez que ela se sentia ameaçada por ele. L.G.O.M. confirmou que já havia registrado outras ocorrências contra o suspeito e, diante do novo episódio, solicitou imediatamente novas medidas protetivas de urgência.
A versão do suspeito
Ouvido pela delegada, J.P.N.M. apresentou uma narrativa diferente. Ele confirmou ter visto mensagens no celular da ex-companheira, o que o deixou “irritado”, e admitiu ter jogado o aparelho no chão. Contudo, negou a agressão física. “Na discussão de hoje ele não agrediu Larissa apenas jogou o celular no chão”, consta em seu termo de interrogatório.
Ele também confirmou ter ameaçado retirar a guarda da filha, mas justificou a fala alegando que a ex-companheira faria uso de entorpecentes. “QUE o interrogando afirma que LARISSA usa entorpecentes e por isso fez a ameaça de pegar a guarda da sua filha”, registrou o escrivão. A ameaça velada sobre a motocicleta foi negada por ele. J.P.N.M. ainda alegou que, em duas passagens anteriores pela delegacia, ele é quem teria sido a vítima das agressões.
Histórico e a decisão da justiça
A delegada Carla Evangelista Lindenberg Nogueira ratificou a voz de prisão dada pelos policiais militares. Enquadrou o suspeito nos crimes de lesão corporal qualificada pela relação doméstica, dano e ameaça, todos sob a ótica da Lei Maria da Penha. A autoridade policial considerou a gravidade dos fatos e a vulnerabilidade da vítima, decidindo por não arbitrar fiança e encaminhar o caso ao Judiciário.
Uma consulta ao sistema do Tribunal de Justiça revelou que J.P.N.M. não é um desconhecido da justiça. Ele já foi alvo de, pelo menos, dois inquéritos policiais por violência doméstica em abril de 2025, ambos tramitando na 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá.
Apesar do flagrante e do histórico, J.P.N.M. foi solto no mesmo dia. No final da tarde, em audiência de custódia, o juiz Moacir Rogério Tortato concedeu liberdade provisória ao acusado. O magistrado fundamentou sua decisão no fato de que as medidas protetivas anteriores já estavam arquivadas, não configurando, assim, um descumprimento de ordem judicial que pudesse justificar a manutenção da prisão. O juiz, porém, destacou que novas medidas protetivas foram deferidas a favor de L.G.O.M., e o próprio agressor foi formalmente intimado sobre elas durante a audiência, antes de ter seu alvará de soltura expedido.
Para entender melhor
• Auto de Prisão em Flagrante (APF): Documento elaborado pela autoridade policial (delegado) que formaliza a prisão de alguém surpreendido cometendo um crime ou logo após cometê-lo.
• Audiência de Custódia: Apresentação do preso a um juiz em até 24 horas. O objetivo é verificar a legalidade da prisão, a ocorrência de maus-tratos e decidir se a pessoa responderá ao processo presa ou em liberdade.
• Medidas Protetivas de Urgência: Ordens judiciais, previstas na Lei Maria da Penha, para proteger a mulher em situação de violência. Podem incluir o afastamento do agressor do lar e a proibição de qualquer tipo de contato com a vítima e seus familiares.
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